12 de maio de 2013

Mártires - Desabafo

Texto feito há seis meses, mas extremamente atual!!

Viramos Mártires de nossa realidade. É muito mais fácil culpar o médico pelo caos da saúde. Somos o batalhão de frente de uma luta diária pela vida. É semelhante a culparmos os soldados por perder uma guerra a qual na realidade foi perdida pelas péssimas escolhas dos comandantes e por possuir um equipamento bélico ultrapassado e defasado. Imagine uma guerra onde faltam balas. Assim encontra-se a saúde potiguar. Falta o mínimo.

Infelizmente embora inúmeras vezes saibamos qual o melhor tratamento para determinada patologia(doença) somos obrigados a oferecer muito menos do que gostaríamos. Nosso desejo de restabelecer a saúde não é suficiente. Nosso desejo de curar não faz milagre. Infelizmente não posso olhar pra um coxo e dizer levanta - te e anda. Sou obrigada a preencher uma guia de internamento pra colocá-lo em um hospital provavelmente já lotado. A solicitar exames que precisam muito mais do que a minha vontade pra serem realizados. Depois vem o calvário de conseguir realizar o procedimento cirúrgico. Sem falar no tratamento clínico associado que muitas vezes fica prejudicado por não ter o mínimo necessário. Veja o exemplo da UTI cardiológica do HMWG que funcionava sem noradrenalina!!

Não somos Deuses. Somos humanos assim como você caro leitor. E provavelmente diferente de você temos cargas horárias gigantescas, horário de trabalho esdrúxulo. Um funcionário público não pode dar mais de 8h/dia, mas o médico dá plantões de 12h e 24h. Temos hora pra chegar, mas nem sempre p/ sair. Abdicamos muitas vezes de nossas famílias, de nosso lazer, de nós mesmos pra tentarmos amenizar a dor e angústia do próximo.

Comemos, precisamos nos locomover, qualificarmos, pagamos contas assim como você, ou seja precisamos de dinheiro assim como VOCÊ. Portanto, lutarmos por melhores salários é justo. Cobrarmos por uma consulta não é mercantilismo é necessidade. Lutamos por uma saúde melhor! Lutamos por não termos que dissociar o que apreendemos na teoria com que fazemos na prática por limitação de insumos e infra estrutura. Lutamos pela nossa dignidade, pela dignidade dos nossos pacientes. Pela humanescência na prática médica. Pois venhamos e convenhamos que é complicado fornecemos um tratamento adequado, humanescente quando somos obrigados pelo sistema a praticamente escolher quem vai viver ou não. Qual seria sua decisão se fosse você o médico e no seu plantão chegasse na mesma hora oito pacientes pra serem atendido, desses cinco graves e três precisando de respirador mecânico e você só dispusesse de dois aparelhos? Ou se você fosse o médico de um paciente que necessitasse de cuidados em uma unidade de terapia intensiva e você não dispusesse de vagas. Quem você acha que a família desse paciente culparia caso esse paciente morresse? Você fez todo o possível solicitou a vaga ao sistema, otimizou o tratamento o máximo que pode, mas NÃO tinha vaga e o paciente foi a óbito(morreu).

Lutamos para que embora cansados ao chegarmos ao fim de mais um plantão possamos ter a consciência de que fizemos não apenas tudo o que poderíamos ter feito, mas que esse TUDO era verdadeiramente a melhor opção terapêutica pro paciente e não a única que dispúnhamos.

Sonho em não ser julgada por erros que não são meus, em não ser esteriotipada. Sou humana, erro e sempre errarei, me confundirei ainda muitas vezes, não sei de tudo e nunca saberei, mas espero com tempo errar menos, me confundir menos, saber um pouco mais. Espero manter minha humanidade. Ser digna da confiança dos meu pacientes e acima de tudo espero que a sociedade compreenda que toda e qualquer profissão existem bons e maus profissionais e que toda generalização esta fadada ao fracasso. O caos na saúde não é culpa dos médicos ou dos profissionais da saúde, infelizmente esse buraco é muito mais embaixo.

Ana Nataly Trieste
Dda.11º Período

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