23 de julho de 2013

Saindo da Zona de Conforto

E quando você acha que as coisas não podem piorar a vida te surpreende. O limite é o céu, mas no nosso caso diria que, o inferno. É interessante observar a dissociação entre o discurso e as ações de boa parte de nossos mestres. Ouvimos diariamente que a saúde está um caos, que o governo não investe o suficiente, que os vínculos trabalhistas são precários, que precisamos de melhor infraestrutura, maior acesso dos nossos pacientes a medicamentos e exames... Entretanto, quando há movimento Regional ou até mesmo Nacional, somos, como estudantes, praticamente cerceados do nosso direito de manifestação. Esses dias tenho testemunhado na minha turma e em relatos de contemporâneos de faculdade a dificuldade que temos enfrentado nas tentativas de somar forças ao Residentes e ao Movimento Nacional. 

Enquanto ouvimos, por repetidas vezes, as razões, tão bem conhecidas por nós, acerca dos motivos da paralisação, escutamos também que não poderemos aderir ao movimento. Que, indo de encontro ao que consta no código de ética médica, não haverá paralisação pelo docente e que, independente de nossas ideologias e do fato de concordamos com as pautas defendidas, teremos que comparecer ao ambulatório. 
Triste realidade... Revolucionários de pijamas, nós e eles. A gente, na medida em que vemos reduzida quantidade de estudantes nessas manifestações, e eles, na medida em que nem nos liberam para participar, nem participam presencialmente dos movimentos. Me pergunto se eles cansaram de lutar ; se não julgam como necessária sua participação ou se a estabilidade, por eles hoje já alcançada, os permite uma zona de conforto da qual não abrem mão... 

Sexta passada, dia 19/07/2013 houve uma reunião com os discentes da UFRN, onde decidimos unir forças com os demais médicos brasileiros e com os residentes do Hospital Universitário a fim de paralisarmos as atividades eletivas juntamente com eles, permanecendo apenas as atividades intransferíveis, tais como evolução das enfermarias. 

Aos docentes, preceptores e coordenadores do curso médico da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, nós discentes da referida instituição imploramos por uma posição oficial da sua parte!! Precisamos ser representados. Precisamos que nossa voz seja ouvida. Somos mais de 500 alunos que não concordam com as últimas medidas do governo. Não concordamos com ações que maquiem a real necessidade da saúde pública brasileira. 

Peço encarecidamente que, se o(a) senhor (a) não concorda com o movimento, respeite o desejo de quem crê diferente. O desejo de quem ainda acredita que podemos ser a força motriz necessária para mudarmos o panorama da saúde atual. 

Hoje, na manifestação, tive o grato prazer de ver alguns docentes, motivo de orgulho,   porém infelizmente ainda bem menos do que gostaria!!! Nosso curso tem tradição, somos formadores de opinião, entretanto até o presente momento ainda não li uma linha oficial com o posicionamento do colegiado de curso. Ouvi sim diversos eu não concordo com o Mais Médicos”, todos extra oficiais. Mais uma vez sejamos formadores de opinião. Vistamos a camisa do movimento e lutemos por nossos pacientes, pelos SUS, por uma Educação Médica de qualidade. E lembrem-se que ser mestre na Educação Médica não se resume apenas a cumprir horários e atender. Participar de manifestações sociais, como a de hoje, nos ensina a ser humanizados e desenvolve em nós um senso de coletividade extremamente importante  para o nosso futuro como cidadãos. 

Nos foi informado hoje que existe uma proposta para os que os Docentes da UFRN sejam os tutores do Programa Mais Médicos no Rio Grande do Norte. Peço encarecidamente, e acredito que em nome de praticamente toda a comunidade discente: não compactuem com isso, não aceitem, não sejam coniventes! Se essa responsabilidade será transferida para outra Universidade, que assim seja. Sejam coerente com o que acreditam, com o que acreditamos. Não é nos submetendo aos mandos e desmandos dessa ditadura branca que conseguiremos avançar. Somos responsáveis por vidas!!! A população não possui entendimento dos riscos a que serão expostos!! Não sejam levianos ao participarem e apoiarem essa vergonhosa medida provisória. 

Mestres, vocês me ensinaram em quase seis anos de curso a lutar e querer o melhor pelo meu paciente. Me ensinaram a ser ética. Nesse momento crítico peço que não esqueçam o que vocês mesmos nos ensinaram. Lembrem-se dos nossos reais objetivos. 

Juntos somos mais fortes!! 
Ana Nataly, Cidadã, Brasileira.

Gostou? Então compartilhe!

Um comentário: